5) 'Racismo' é a palavra mais prostituída e abusada de sempre.
O desporto é o espelho da melhor das utopias.
Com a excepção do basquetebol e a sua dimensão elitista (a altura é um critério fundamental de sucesso), a maioria dos desportos tende a aceitar tudo e todos. Pretos, brancos, baixos, altos, gordos e magros todos são aceites.
O futebol e o basebol são os melhores exemplos desportivos deste fenómeno. Ronaldo Nazário jogava com 90 kg. Miguel Cabrera com 109 kg. Não há maior paraíso comunista que estes dois desportos.
O melhor jogador de futebol do Mundo é argentino, tem o peso de uma pena e teve problemas de crescimento no passado. Veio dos confins da América Latina e hoje domina o futebol mundial. Exemplos destes, no desporto, não faltam.
Ninguém se preocupa com a cor da pele, com a preferência sexual ou até com a nacionalidade de um jogador. O que qualquer adepto, agente, presidente ou treinador de futebol se preocupa é com a qualidade do jogador. O critério de avaliação é este e mais nenhum.
Portanto, espanta-se quem como eu vê o que se tem feito com o futebol.
Os constantes anúncios de apelo ao fim do racismo e o apelo à igualdade, uma palavra muito usada, para com aqueles que são vítimas de abuso verbal racista tornam o futebol num local político. O futebol inglês tem sofrido muito com esta questão, dizem eles. Muitos foram os jogadores de futebol atacados através das redes sociais com insultos de determinados adeptos na passada semana.
Um exemplo caricato prende-se com uma lenda do Arsenal, Ian Wright, que ficou chocado quando um juiz não encetou uma pena criminal a um jovem de 18 anos por este o ter abusado verbalmente através do Instagram.
Por muito estranho que pareça, há quem ache prudente que um miúdo de 18 anos seja preso por palavras que disse a um outro indivíduo. Porque, no fundo, é isto: meras palavras.
Já me debrucei aqui, aqui e aqui sobre racismo no desporto e na sociedade. E de maneira a não me tornar repetitivo ou até desinteressante trago um testemunho perspicaz de um antigo professor de Economia, o grande Walter Williams.
Aquando de uma Conferência Internacional Libertária em Estocolmo, decorria o ano de 1986, Walter Williams deixou perguntas no ar.
'Devemos ficar chateados porque um indivíduo não gosta de um outro indivíduo por causa da sua etnia? Devemos estar chateados quando pessoas fazem escolhas arbitrárias com base na cor da pele, género ou preferência sexual?' (minuto 3:10).
Acrescentando a estas indagações, Williams fez afirmações complementares.
'Quando falamos de preferência racial, esta não é muito diferente de qualquer outra preferência (...) Não há nenhum argumento que um pode apresentar, na minha opinião, que diz que devemos gostar de todos, igualmente, por etnia, por sexo ou nacionalidade.' (minuto 3:56-5:10).
Espanta-me Walter Williams proferir, em 1986, palavras tão actuais. O tipo de 'abuso' que jogadores como Ian Wright, Reece James, Marcus Rashford ou até Raheem Sterling têm sofrido prende-se com pessoas chateadas com eles por causa da sua cor de pele.
Não entendo a perplexidade de tantos quando alguém não gosta de outro alguém pela sua cor de pele. Pensamos todos o mesmo? Temos a obrigatoriedade de gostar de todos os humanos?
As pessoas que lêem este modesto blogue preferem um tipo de pessoa ao outro. Por cor de pele, por idade, por nacionalidade ou até orientação sexual. Tudo isto são escolhas e preferências. Se devemos ou não abusar verbalmente estas pessoas de quem não gostamos, isso já cabe a cada um. Ser civilizado é também uma escolha.
O mais interessante desta novela nem é o abuso online. Esse é facilmente domado. Basta não abrir as redes sociais.
É interessante como os jogadores de futebol mais poderosos de Inglaterra são capazes de dar tanta atenção ao que pessoas anónimas, de diferentes partes do Mundo, dizem ou escrevem numa rede social. As prioridades de vida destes indivíduos estão viradas do avesso.
É infantil e pouco adulto mas daí serem pagos para dar toques numa bola e não para colocar o Homem no espaço.
Sair da bolha da vitimização seria um bom passo a dar.
Mas lá está, não somos todos iguais.
4) Há dois Sean Penn.
Na semana passada vi dois filmes de Sean Penn. Hurlyburly e Dead Man Walking foram os escolhidos.
Com HurlyBurly (1998) fiquei, tremendamente, desiludido. O elenco era tão injusto que fazia lembrar a equipa da Argentina no Mundial de 2006. Na mesma equipa havia Lionel Messi, Pablo Aimar e Riquelme.
O filme independente tinha Sean Penn, Robin Wright, Kevin Spacey, Meg Ryan e Chazz Palminteri como protagonistas. Hurlyburly gira à volta da personagem de Penn, Eddie, um agente de Hollywood que usa drogas para escapar à vida quotidiana. A interação entre as personagens é fraca e o diálogo é tão complexo que quem está a ver o filme pergunta: 'Há quem fale desta maneira tão elaborada com os seus amigos?!'.
A desilusão é maior porque o elenco é tão bom e o potencial foi por água abaixo. Há momentos no filme onde os monólogos parecem ter um futuro promissor mas a complexidade destas mentes toma sempre conta do diálogo. Pena.
Já Dead Man Walking (1995) mostra a genialidade de Sean Penn. No filme, Penn representa Matthew Poncelet, um habitante do Louisiana no corredor da morte. Este tinha morto, com a ajuda de um amigo, um casal jovem no meio do mato. Poncelet, sabendo estar no fim dos seus dias, pede apoio espiritual à freira Helen Prejean, interpretada por Susan Sarandon. Esta acude.
Para além de o ajudar na batalha legal, de modo a reduzir a sentença de Poncelet de pena de morte para prisão perpétua, Helen Prejean pretende libertar Poncelet de todos os conflitos emocionais que este acarreta dentro de si.
Com este desempenho, Sarandon venceu o Óscar de Melhor Actriz e Penn foi nomeado para Melhor Actor.
No espaço de dois anos, Sean Penn foi de bestial a besta.
Penn é o espelho de todos os humanos. Tem dias bons e dias maus.
Profético.
3) Sérgio Conceição é excelente.
Havia uma regra: o F.C. Porto nunca tinha vencido a Juventus nas competições europeias.
Na noite de quarta-feira, na 1ª mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões entre F.C. Porto e a Juventus, Sérgio Conceição quebrou a regra e o campeão português venceu o campeão italiano por 2-1.
Como sempre, Conceição mostrou ser um dos melhores na Europa. Em vez de apostar num sistema com três centrais, o F.C. Porto manteve a sua identidade. A pressão do 4-4-2 em losango marcou um golo de Taremi cedo na partida. Desde esse instante, Uribe e Sérgio Oliveira tiveram o jogo mais tranquilo das suas carreiras. Marega ainda ampliou o marcador no início da 2ª parte e Chiesa marcou o único golo da Juventus ao minuto 82.
Havia Rabiot, Bentancur, Alex Sandro, Danilo, Kulusevski, Ronaldo e De Ligt do outro lado. Todos eles jogadores de alto nível e com um valor de mercado bem superior ao dos jogadores do Norte de Portugal. Mas de nada servia porque Conceição é 30 vezes melhor que Andrea Pirlo a treinar jogadores de futebol.
O futebol da Liga dos Campeões, quando equipas mais fortes defrontam equipas mais fracas, necessita muito mais de treinadores do que jogadores. O plano estratégico torna-se inegociável quando não há individualidades capazes de neutralizar um colectivo. Com uma equipa taticamente responsável, como foi o Porto, a diferença individual entre as duas equipas nem se notou. Sérgio Oliveira parecia Christian Eriksen e Marega parecia Romelu Lukaku. O Porto, com base neste jogo, está capacitado para disputar os primeiros lugares da tabela da Serie A.
A chave do Porto estava num trabalho colectivo com uma base sólida de 4 anos. Corona, Sérgio Oliveira, Otávio e Marega são a fundação deste Porto de Conceição. Com rotinas bem preparadas desde 2017, o difícil pareceu fácil.
A Juventus, ao contrário, é uma equipa envelhecida e o seu treinador sem grandes experiências de treino. O problema que Pirlo enfrenta na Juventus é o mesmo de muitos outros treinadores: falta de experiência. Ninguém se torna melhor numa determinada actividade se não a praticar.
Pirlo nunca treinou ninguém na vida. A Juventus, um clube histórico de Itália, ofereceu-lhe um 1 milhão de euros por ano, mais a possibilidade de treinar um grande plantel. Qualquer um aceitaria. O mesmo se passou com Frank Lampard no Chelsea.
Já o treinador do Porto tem muito mais prática, muito mais conhecimento e muito mais cultura tática do que muitos treinadores na Europa. Não é de pasmar a vitória da equipa das Antas.
Há poucos treinadores melhores que Sérgio Conceição e isto não é uma hipérbole.
O que é nacional é bom.
2) Kylian Mbappé marcou o hattrick menos impressionante da Liga dos Campeões.
20 jogadores marcaram hattricks na fase a eliminar da Liga dos Campeões desde 1992. Apenas 20.
Na terça-feira, em Espanha, para a 1ª mão dos oitavos de final entre Barcelona e Paris Saint-Germain (1-4), Kylian Mbappé tornou-se no 21º jogador a conseguir tal feito.
Fez um jogo tremendo e mereceu ser o homem do jogo, mas os três golos não impressionam. A linha defensiva espanhola com Dest, Piqué, Lenglet e Alba não são Thuram, Nesta, Baresi e Maldini. Uma defesa velha, má e com um treinador suspeito (Koeman) torna-se presa fácil e muito lenta.
Mbappé fez o que queria com quem queria. Impôs o seu jogo e conseguiu transformar ex-campeões europeus em jogadores do Campeonato Nacional de Seniores.
Em 2021 não é difícil marcar ou até vencer ao Barcelona. Tem sido uma piada de clube e Mbappé apenas exacerbou esse facto.
1) Jorge Jesus precisa de tempo.
O Benfica não foi além de um empate frente ao Arsenal (1-1) na 1ª mão dos 16 avos de final da Liga Europa. Não houve nem a agressividade ofensiva nem a segurança defensiva que caracteriza as equipas de Jorge Jesus. Pizzi marcou de grande penalidade aos 55 minutos mas Bukayo Saka empatou três minutos depois.
Esgrimir contra uma equipa dos lugares cimeiros do campeonato inglês não é tarefa fácil mas saltou-me à vista uma explicação.
A linha divisória nos desempenhos de F.C. Porto e Benfica nas competições europeias é o tempo. Sérgio Conceição tem tido a base da sua equipa, mesmo com saídas e entradas, inalterada durante 4 anos seguidos. Com uns reparos aqui e ali é capaz de manter as rotinas e enquadrar novos jogadores no seu clube. É complexo e requer muita astúcia e competência, mas essa estabilidade permite um melhor desempenho da equipa a curto, médio e longo prazo.
Jesus ainda não teve essa facilidade. O Benfica despediu os últimos dois treinadores, tem tido exibições paupérrimas na Europa e em termos nacionais perdeu dois dos últimos três campeonatos para o Porto de Conceição.
Benfica e Arsenal protagonizaram um jogo interessante mas não brilhante. Nenhuma equipa teve um grande nível de superioridade. Notou-se, contudo, alguma diferença qualitativa entre Liga NOS e Premier League mas nada mais.
Para já, o Benfica de Jesus está com um pouco de ferrugem. Não está bem mas não está horrível. Os resultados reflectem essa mesma inconsistência. Em termos ofensivos e defensivos a equipa ainda não se conhece bem.
Tudo isto é normal. Jesus chegou no Verão de 2020 e a equipa ainda não conhece tão bem as suas ideias. Para o ano, o Benfica será substancialmente melhor e terá menos peso morto.
Jorge Jesus é uma figura controversa no Benfica mas que ninguém se esqueça que este ainda é o treinador com mais sucesso na história do clube.
Fará Jesus algum milagre ainda este ano?
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