4) Os famosos e os ricos são a classe social mais oprimida.
1 hora e meia de entrevista. 1 hora e meia que não vou recuperar.
Estive indeciso em ver a entrevista de Meghan Markle e Príncipe Harry a Oprah Winfrey, sobre a saída dos Duques de Sussex da Família Real Britânica. Mas a indecisão desapareceu e lá me sujeitei a 90 minutos de tortura.
Sob o ponto de vista de entretenimento puro e duro, a peça de teatro foi bonita. Não é de estranhar. Oprah Winfrey tem uma nuvem de drama constante à sua volta, elemento basilar para o seu sucesso como figura mediática. Michael Jackson, Lance Armstrong e Tom Cruise foram apenas alguns dos parceiros de dança de Oprah nestas 'entrevistas' e protagonizaram vários momentos notórios da televisão americana. Para Oprah, estes dois duques representavam um mero aquecimento.
Se para Oprah a facilidade da entrevista era um dado adquirido, para os duques não era. Havia muita história para contar e a dor era muita. Viver num palácio, sem qualquer tipo de preocupação, afinal não é tão charmoso quanto os filmes da Disney.
Aturar Sua Majestade e o Duque de Edimburgo é mais taxativo do que uma colonoscopia. Mas vamos por partes.
Sua Alteza, Meghan Markle, ex-actriz de Hollywood, é a figura principal desta entrevista e a sua novela começa logo com uma história demolidora para a Família Real Britânica.
Aquando da preparação para o seu casamento com o Príncipe Harry, Meghan Markle trocou galhardetes verbais com a Duquesa de Cambridge, Kate Middleton, por causa dos vestidos das meninas que espalham as pétalas de flores até ao altar da Igreja.
Os jornais e outros media ingleses descreveram que a raiva de Meghan fez com que a outra duquesa ficasse em lágrimas. Meghan desmentiu e disse o contrário. Oprah ficou perplexa com esta história de graves repercussões mundiais.
Esqueçam a fome e a pobreza, uma peça de tecido tem de abrir os telejornais.
Depois desta bomba, lá falaram sobre a masmorra psicológica de viver no Palácio de Buckingham, da vergonha que ambos sentiram quando alguém dentro da família Real perguntou se o Mestre Archie, filho de Meghan e Harry, seria muito escuro, e como Meghan tinha sido impedida de procurar aconselhamento psicológico por causa dos seus pensamentos suicidas. Harry também mencionou não saber lidar com os pensamentos sombrios da sua mulher estando também preocupado, tal como Meghan, com a segurança do Mestre Archie.
Falaram também sobre os novos projectos com a Netflix e o Spotify e como podem ajudar outros mais desfavorecidos.
Tudo isto não passou de uma consulta.
Tudo isto não passou de uma validação dos sentimentos de três pessoas mega-privilegiadas.
Nem me vou focar na questão monetária. Os números são altos de mais. Irei concentrar a minha escrita numa nova cultura de importância dos sentimentos de cada um.
Para entrevistar uma duquesa tinha de ser assim.
A relação entre os tabloids e jornais ingleses com os duques foi o principal foco desta entrevista. Meghan e Harry sentiam-se mal porque se escreviam peças jornalísticas, a seu respeito, que não eram do seu agrado. Já tinha sido uma maçada para o Príncipe aturar os media quando se vestiu à Nazi ou quando foi fotografado todo nu num hotel em Las Vegas. Com Meghan, a tinta ficou mais forte.
Meghan sentia-se mal. Meghan sentia-se farta. Meghan sentia-se mal tratada. Meghan achava chato viver.
Mas acenar em vestidos milionários de vez em quando não é pior que passar o dia inteiro numa mina.
Admire-se quem por aí anda a acordar às 6 da manhã para chegar ao trabalho às 9:00h e em 90% dos casos quer é ficar em casa a ver televisão. Admire-se, também, quem por aí anda a aturar um chefe chato e ter de comer sapos o dia inteiro.
Os problemas dos duques não são problemas da mulher e do homem comum mas sim de um classe de rabugentos mimados que têm alguém, todos os dias, a levar-lhes o pequeno-almoço à cama, que dormem em pijamas de seda e bebem o uísque mais caro.
Será assim tão difícil cancelar todo o ruído exterior, seja da Internet ou dos jornais, quando se tem um vencimento anual de mais de 5 milhões de dólares? Mesmo com um vencimento de 7 mil euros anuais é difícil deixar de ver ou ouvir pessoas nas redes sociais e arredores? O que pessoas estranhas dizem acerca de nós é assim tão relevante que nos impede de viver as nossas vidas?
No fim do dia, Meghan e Harry voltam para a sua mansão de 14 milhões de dólares num dos bairros mais caros da Califórnia e sem qualquer tipo de responsabilidade sem ser o de estoirar uma fortuna e eu devo sentir pena?
Isto não são problemas do mundo verdadeiro mas antes birras entre milionários que tentam descobrir qual deles é o mais oprimido.
Com 14 milhões de dólares na minha conta fazia como o traficante Carlos Lehder: comprava uma ilha, enchia-a de prostitutas e cocaína e ninguém me voltava a ver.
Como disse Sir Anthony Hopkins no filme 'The Edge': 'Nunca sintas pena de um homem que tem o seu próprio avião'.
3) Estão encontrados os sucessores de Messi e Ronaldo.
Com a ajuda dos dados do FBRef, decidi fazer uma comparação entre Erling Haaland, avançado do Borussia Dortmund, e os melhores marcadores dos principais campeonatos de futebol.
Ou seja, Mohammed Salah em Inglaterra, Robert Lewandowski na Alemanha, Cristiano Ronaldo em Itália, Kylian Mbappé em França, Lionel Messi em Espanha e Erling Haaland. Queria saber o número de remates de cada um, bem como a percentagem de remates enquadrados.
Haaland rematou 60 vezes e 33 desses remates foram enquadrados. Lewandowski rematou 94 vezes e 39 foram enquadrados. Messi é o que mais remata com 128 com 62 enquadrados. Salah tem 77 remates e 31 à baliza. Ronaldo com 109 e 41 à baliza e Mbappé com 65 remates e 31 à baliza.
Haaland é de longe o mais eficaz com uma percentagem de 55% de remates enquadrados. Mas Mbappé não lhe fica muito atrás.
Mas não são só as estatísticas que importam. Haaland é super agressivo quando ataca o primeiro ou segundo poste, partindo sempre nas costas do defesa para depois atacar o espaço à frente deste. Retarda de forma exemplar a sua corrida para não ficar fora de jogo e é um jogador com um remate muito estranho, que foi analisado neste artigo, mas que lhe tem dado muito sucesso.
Faz lembrar Iván Zamorano na agressividade e velocidade a encontrar o espaço. Mas Haaland tem apenas 20 anos.
Mbappé e Haaland é a rivalidade no pós-CR7 v. Messi e Haaland, a meu ver, será muito mais determinante.
2) Sérgio Conceição tem de treinar a Juventus.
O F.C. Porto garantiu a entrada nos quartos de final da Liga dos Campeões ao eliminar a Juventus. Em jogo da segunda mão dos oitavos de final, o Porto perdeu (3-2) mas passou com a vantagem dos golos fora. Federico Chiesa (dois golos) e Adrien Rabiot marcaram os golos da Juve e Sérgio Oliveira marcou os do Porto.
Foi uma noite histórica? Não me pareceu.
Passo a explicar.
Não existe incompetência neste Porto de Sérgio Conceição. Não há nenhum fora de série no plantel azul e branco mas Sérgio Conceição dá-nos a ilusão de que existe um Messi ou um Neymar. Tudo isto é treino e competência de um dos melhores treinadores da Europa.
A vitória do Porto contra a Juventus, em Turim, relembrou à Europa a qualidade dos treinadores portugueses.
De um lado da zona técnica do Juventus Stadium estava um inexperiente treinador sem qualquer tipo de noção do que se necessita para ser treinador. A culpa não é sua. A culpa é de quem o contratou.
Quando se pensa numa Juventus pensa-se em Marcello Lippi, Carlo Ancelotti, Fabio Capello, Antonio Conte, Massimiliano Allegri e Maurizio Sarri. Não há aqui grandes segredos. A Juventus chegou ao nível do topo do futebol europeu com grandes mentes por detrás do jogo jogado.
Do outro lado dessa zona técnica estava um mestre da tática, um treinador exemplar em todos os momentos do jogo com experiências em Portugal, França e Bélgica. Um conhecedor das suas fragilidades e das suas forças. Um treinador que, raramente, deixa a sua equipa exposta ou impreparada. Basicamente, um futuro treinador da Juventus.
O Porto foi superior à Juventus em todos os momentos do jogo fruto dessa competência e astúcia portista. Não vacilaram na construção e foram certeiros no momento da finalização. Nada de novo. Já na primeira mão foi igual.
Não foi uma noite histórica pelo simples facto de não surpreender o olho treinado. Sérgio Conceição é melhor que Pirlo e esta equipa do Porto, no seu colectivo, é, francamente, superior à equipa com um valor de mercado de 689 milhões de euros.
Foi tudo muito fácil para o Porto e não se esperava nada de diferente.
1) Ronaldo desapareceu num momento crucial.
Tem de ser dito: Ronaldo foi péssimo.
Em jogo da segunda mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões, a Juventus foi eliminada pelo F.C. Porto e Cristiano Ronaldo desertou.
Com a fama de superestrela, Ronaldo ficou habituado aos louros e aos elogios mas também ficou refém do escrutínio crítico.
Ronaldo não gosta de ser contrariado. Não acha que existe um jogador melhor que ele no Planeta Terra. Para Ronaldo perder um jogo ou um troféu não significa que as suas capacidades diminuíram ou que está perto da reforma mas antes que houve uma oferta de 'dois presentes de Natal' da sua equipa. Este ano, Ronaldo está isento de crítica e de qualquer notícia negativa por estar a ter uma época muito boa no campeonato italiano. Marca golos em quase todos os jogos, tentando ajudar a equipa nesta má fase.
Mas Andrea Agnelli, presidente da Juventus, não comprou Ronaldo ao Real Madrid para este marcar três golos contra o Benevento. Nem contra a Fiorentina ou o Inter. Para isso chegam os outros jogadores da Juventus.
A direção da Juventus assinou contrato com o jogador português porque tem ambições maiores. Precisa de uma 'orelhuda' porque não a conquista desde 1996. A única tarefa de Ronaldo na Juventus é levantar o troféu da Liga dos Campeões e mais nada. Para os meros mortais esta tarefa é complicada mas para Ronaldo isto é tão fácil como andar de bicicleta.
Mas o Ronaldo de antigamente, aquele avassalador Ronaldo que ganhava Ligas dos Campeões sozinho, tem desaparecido nos momentos para o qual a Juventus o contratou. A meu ver, Ronaldo não está a respeitar a sua parte do acordo. Os 30 milhões anuais, quantia que a Juve paga a Ronaldo, não têm tido correspondência no relvado. No primeiro ano de Ronaldo a Juventus foi eliminada pelo Ajax, neste ano Ronaldo foi o mais determinante mesmo na eliminação. No seu segundo ano, foi eliminado pelo 7º classificado da Ligue 1. E no seu terceiro ano foi eliminado pelo Porto, que joga com o Wilson Manafá a titular.
Ronaldo tem desaparecido a um ritmo mais acelerado do que o normal. No jogo contra o Porto, na segunda mão, teve uma oportunidade de marcar um golo de cabeça mas decidiu tentar fazer um passe para Álvaro Morata. A jogada caiu por terra fazendo com que Ronaldo não fizesse nada de especial no jogo sem ser uma assistência para Chiesa.
As desculpas de que a equipa da Juventus não é suficiente para ganhar uma Liga dos Campeões não são infundadas mas não aceito que Ronaldo pactue com isto. Para todos os efeitos, Ronaldo é o factor determinante nas equipas onde joga. É ele que consegue fazer os medíocres parecerem os melhores do Mundo.
Cristiano Ronaldo desapareceu quando a Juventus mais precisava de si.
Já é tempo de começarmos a aceitar com normalidade esta quebra qualitativa de Ronaldo.
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