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Jorge Andrade e o problema do futebol moderno






Na antevisão ao dérbi de domingo (4-2 para o Benfica), na RTP, Jorge Andrade proferiu algumas palavras sobre como parar o jogador do Benfica, João Félix, e muitos ficaram incrédulos quanto à resposta do defesa central. 

Numa honestidade louvável, o ex-Juventus disse:



Eu, se ainda jogasse, dava só um pisão no João Félix e não havia mais João Félix durante o jogo. E aí tinham (Benfica) de recorrer a outro estilo de jogo

Primeiro, devemos respeitar e admirar que Jorge Andrade fez parte de uma geração de homens e não de meninos que jogam ao UNO depois de um jogo e celebram como se estivessem num concurso de dança. Andrade foi um grande senhor da bola e a reação aos seus comentários não só revelou a fragilidade da nossa sociedade mas também a moleza do futebol moderno.


Se existe toda esta revolta em torno dos comentários de Jorge Andrade, então fico contente de o ter visto jogar noutra era, onde a honestidade, a personalidade e a competitividade eram baluartes intrínsecos à prática do desporto rei.


Fernando Couto, Jorge Costa, Ricardo Carvalho, Abel Xavier, Hélder, Beto entre outros. Estes nomes representam o melhor que Portugal criou e devia continuar a criar. Jorge Andrade fez parte desta turma e não devia pedir desculpa.


Jorge Costa partiu a mão a George Weah de tal maneira que quando chegou ao balneário, depois do jogo entre o F.C. Porto e o A.C. Milan, levou uma cabeçada do avançado do clube de Milão, ficando a sangrar do nariz. No entanto, foi homem suficiente para ir à conferência de imprensa.


Fernando Couto decidiu, e sabendo que era parecido com Steven Seagal, dar uma simples cotovelada a Carlos Mozer, defesa do Benfica. Foi expulso. Protestou? Foi pedir desculpas ao Mozer através do Facebook? NADA! Dirigiu-se ao balneário e tomou banho mais cedo.


E podia estar aqui a contar estas lengalengas mas iria fugir à questão inicial. O futebol moderno já não tem jogadores capazes de usar o físico, quase nos limites da agressividade. Isto não é um ataque a João Félix mas sim uma constatação da fragilidade e da anemia vivida no nosso futebol.


'If he dies, he dies' já dizia Ivan Drago, mas aqui não se trata de matar ninguém ou agredir mas sim não pedir desculpas por ser um tanto ou quanto agressivo, de modo a parar um jogador talentoso. A competitividade foi sempre algo que vinha ao de cima no futebol. Hoje, nem tanto.


O desporto tem um alcance mundial pois funciona mediante os parâmetros da meritocracia. No mundo empresarial manda quem tem o título mais comprido. CEO, COO, CFO, Presidente Regional, Nacional, Sectorial, o que for. No futebol ganha o melhor  mas também aquele que compete melhor. Competir a todo o custo, mesmo que seja preciso retirar uma perna ao adversário.


Jorge Andrade não devia ter sido posto na cruz por ter dito o que sentia e, muito menos, ter de vir a público pedir desculpa. Devia era preocupar-se em formar homens, tal como jogadores, semelhantes a ele e aos seus compatriotas. Sem medo de competir e de dizer o que pensam sobre o adversário.


Não se vê ninguém com personalidade no futebol. É tudo chavões convencionais. 'Respeitamos o adversário', 'Sabemos que vai ser um jogo difícil', 'A outra equipa terá os seus argumentos'. 


Nunca há um: 'Vamos ganhar e comer relva. Eles vão levar 10-0 só por terem olhado para nós de lado' ou um 'Não respeito o adversário pois pagam-me muito dinheiro para ganhar e não para perder, pois se ganhar muitas vezes mais dinheiro recebo e mais troféus levanto. Vou respeitar o adversário porquê? Ele também quer ganhar, o que significa que eu teria de perder e isso poria em causa todo o meu sucesso, o dinheiro que faço e a fama que tenho'. Força miúdos, sejam milionários com as minhas palavras.


Jorge Andrade deu-nos uma chapada de graça, alertando-nos da nossa debilidade e de não nos apercebemos que a hipocrisia reina no futebol, pois tão depressa ouvimos os chavões acima mencionados como temos jogadores a chamar nomes uns aos outros, dentro do terreno de jogo.


A realidade mudou mas mudou para pior e o futebol sofre por causa disso.


Garçon, era mais um Jorge Costa, se não se importar.



Twitter: https://twitter.com/MartimSilva1

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